Entrevista

1°- Como o Teatro entrou na sua vida?

Lá pelos idos da década de sessenta (1961...), eu chegava à São Paulo com uma mala velha de couro repleta de sonhos, fantasias muitas e esperanças tantas...

Lá encontrei também São Paulo, vivenciando um momento mágico de ebulição sócio-político-cultural:Greves muitas, festivais de musica tantos, companhias e grupos teatrais inúmeros (Cacilda Becker, Maria Della Costa, Teatro Oficina, Teatro Arena, Teatro Aliança Francesa, os ensaios noturnos na escolinha de Teatro do Julinho Mesquita lá na Luz e, ao lado de minha residência, o TUCA...),  e a vizinhança adorável de Guilherme de Almeida que, ao fim de todas as madrugadas, quando eu retornava pra casa, cumprimentava-me dizendo: “Boa noite porongo!... estou aqui esperando a musa...”

Portanto, São Paulo transpirava musica, literatura e TEATRO, como pequi exala o perfume do SERTÃO!!!...

Era o meu momento certo!

Era a minha oportunidade que chegara ligeira, e eu, de uma forma marota, sem ser constrangido, me deixei levar:

Pelo teatro, pelos festivais de MPB ( Chico Buarque,Nara Leão,  Novos Baianos, Rita Lea, Elis Regina, Jair Rodrigues...),  e por tudo, que naquele momento, a vida coletiva da Cosmópolis, graciosamente, me ofertava! 

Então, o TEATRO me seduziu..., e eu me deixei seduzir,

Porque ele era mais forte que eu!

A pista de quando o TEATRO entrou em minha vida, eu a dou através destes meus singelos versos que compõem o cordel a seguir:             

Cordel de Uma Paixão Desvairada

Dá-me licença, minha gente, Pra eu poder lhes relatar, O meu grande encantamento, Pela arte de representar!... Logo que a Sampa cheguei, Pra viver, morar e trabalhar... De pronto, pus-me a buscar... Como do Teatro, desfrutar!...

Então, pus-me a bater pernas e a saltar, Daqui pra ali, e, de lá pra cá, E, aos poucos fui descobrindo: Lugares... E o que fazer, Para que eu pudesse apreender... A bela arte de representar!...

Dessas minhas muitas andanças, Algumas agora, eu passo a narrar:

Entre mim e o Teatro, O primeiro contato ocorreu Numa noite de estréia, Lá no “Teatro Brasileiro de Comédia”, Que em eventos desse naipe, Entrada, não costumava cobrar!... E foi por conta dessa benesse, Que eu pude estar lá, Pra ver, ouvir e admirar, A grande Cacilda Becker, No palco a interpretar!...

Por lá permaneci, Ao lado Walmor Chagas, Até a peça findar. Eu, para apertar a mão da grande Cacilda, E ele, pra amainar a fúria silenciosa da critica, Prestes a esbravejar!... Isto é pura verdade, Quer vocês queiram ou não! Ainda hoje, Como se fosse um eco a soar, Ouço... Cacilda a chamar: " Fitatatitaaaaa... Fitatatitaaaaa...” Alguns anos depois, Tive o desgosto de me informar, Que a interpretar "Godô", A grande Cacilda nos deixou... Pra no firmamento... Mais uma estrela brilhar...

Tre lé lé... Ter lé lé... tra lá lá, Muita coisa ainda tenho... Prá lhes contar!... Lá no “Teatro da Aliança Francesa”, -Ao lado de Leonardo Vilar-, Tive a feliz oportunidade, De contemplar Gogol a desfilar Com seu famoso monólogo, -“Diário de Um Louco”-, Graças à brilhante interpretação, Do grande ator Rubens Correia, Que nos fez a todos pasmar!...

Enquanto no TUCA, A “Morte e Vida Severina”, -De João Cabral de Melo Neto-, Era ensaiada a todo vapor, Pra na França, em um festival de teatro Se apresentar, Lá no “Teatro Oficina,” Máximo Gorki encantava, Com seus “Pequenos Burgueses”, Tendo, o grande Renato Borghi, A comandar a bela apresentação!... Já no “Teatro de Arena”, A grande Dina Sfat, A carreira iniciava, Com talento, graça e disposição... Tendo contribuído assim, Pra “Zumbi”cantar, com veracidade, A tão propalada “Liberdade”!...

Com uma incontrolável curiosidade, Punha-me, no mesmo dia, De um teatro a outro, A bisbilhotar... E assim, Criei vínculos de amizade Com inúmeros artistas, Que, ao Teatro, Ensinaram-me a amar...

Após o lamentável “Golpe”, -Apelidado de revolução-, Para a censura enganar, O Teatro passou daí então, A expressar seus protestos muitos... Através, de metáforas tantas... E de musicais inúmeros!...

Então, procurei me informar: Como assistir Bibi, “My Fair Lady,” interpretar?!... Logo subi à av. Brigadeiro, E com uma grande placa me deparei A anunciar a dita famosa opereta, Em que ela, Paulo Autran e Uma multidão de atores coadjuvantes, Lá estavam a estrelar...

Quinze vezes lá voltei, Só pra me deliciar!... Fascinado... Com o enredo, Com os cenários a mudar, E com o som das “cantigas de cantar”!... Por tudo isso, Sentia-me sempre atraído, Ao teatro retornar!... Cantando, falando ou dançando, Todos os atores interpretavam Lindamente... Sem cessar... A produzir emoções inesquecíveis, Difíceis de explicar!...

Cerradas agora as cortinas, Por-me-ei a degustar... Essas tão saborosas lembranças, Que com palavras, as tentei plastificar, Pra que eu possa delas, Sempre me recordar!...

Montes Claros, 16-04-2011 RELMendes

 

 

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